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Minas quer resgatar turismo ferroviário

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O número de passageiros nesses trens vem crescendo 10% ao ano, desconsiderando os urbanos .
EDUARDO ROCHA/RR
Um dos exemplos de sucesso em Minas é a linha que liga São João del-Rei a Tiradentes
Um dos exemplos de sucesso em Minas é a linha que liga São João del-Rei a Tiradentes
Eles estão no imaginário popular e fazem parte até do linguajar e do estereótipo dos nascidos no Estado de Minas Gerais. Na prática, porém, andam meio esquecidos e, apesar do charme e da comodidade que podem oferecer, os trens turísticos mineiros ainda são poucos se comparados às opções de trajetos possíveis e ao encantamento que causam em adultos e crianças.

Em maio, o 8º Seminário sobre a Implantação de Trens Turísticos e Culturais (TTC), realizado em Rio Acima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), possibilitou a troca de experiências e debateu novas formas para o desenvolvimento desse modal que, em muitos países, principalmente da Europa, movimenta grande fluxo de turistas e recursos.

Para o presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC), Adonai Arruda Filho, os maiores obstáculos para a utilização mais ampla dos trens turísticos no Brasil ainda são a burocracia e a falta de informação. “O número de passageiros nesses trens vem crescendo cerca de 10% ao ano, desconsiderando os trens urbanos (Vitória a Minas e Carajás). O grande desafio é levar ao conhecimento das pessoas a existência desses trajetos. São 31 em operação no Brasil, com novas implantações sendo feitas, mas pouco divulgadas”, avalia Arruda Filho.

Os custos e a legislação ambiental são outros pontos que assustam os empreendedores em um primeiro momento. Como as estações são propriedade do Estado, todos os projetos têm uma parte concedida, mas não necessariamente aporte financeiro governamental. No caso de antigos trajetos recuperados ou reativados, em que a via já exista, o processo é mais fácil.

Trajetos – Em Minas Gerais, são cinco trens turísticos e poucas informações sobre eles. Para o engenheiro ferroviário, especialista em transporte e logística Afonso Carneiro Filho, o Estado tem um grande potencial inaproveitado, já que possui a maior malha ferroviária do país. Carneiro Filho trabalhou por 30 anos na Rede Ferroviária Federal (RFFSA), nove no Ministério dos Transportes e chefiou o Departamento de Transporte Ferroviário. Minas é um Estado central, que funciona como entroncamento, então o potencial é muito grande.

Atualmente, os trajetos implantados são o trem de Passa Quatro, na região Sul do Estado; São Lourenço-Soledade de Minas, também na região Sul, administrado pela regional Sul de Minas; a Maria Fumaça que faz o trajeto entre São João del-Rei e Tiradentes, no Campo das Vertentes, administrada pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA); a linha entre Ouro Preto e Mariana, na região Central; e a Vitória a Minas, entre Belo Horizonte e Vitória (ES), os dois últimos mantidos pela Vale S/A. O trem Vitória-Minas é considerado urbano de transporte de passageiro e carga e não apenas turístico.

Em maio de 2003, o governo federal lançou o Plano de Revitalização das Ferrovias com quatro programas, entre eles o resgate do transporte ferroviário de passageiros que inclui projetos de trens turísticos, trens regionais e trens de alta velocidade. “Em Minas, temos potencial e trabalhamos os três modelos. Precisamos, entretanto, de maior apelo político.  necessário recuperar a cultura ferroviária demonstrando a sua viabilidade econômica”, explica o engenheiro.

Maria Fumaça – Um dos melhores exemplos de sucesso em Minas Gerais é a linha que liga São João del-Rei a Tiradentes. O trajeto, criado por Dom Pedro II em 1881, foi retomado pela FCA em 2011 e atualmente carrega cerca de 12 mil passageiros por mês. As cerca de 800 viagens realizadas anualmente transportam turistas de todo o mundo entre as duas cidades coloniais em um trajeto de 12 quilômetros. Segundo dados divulgados pela FCA, o fluxo de passageiros tem aumentado nos últimos anos. Em 2011, o aumento em relação ao ano anterior foi de 13 mil pessoas. No ano seguinte, em 2012, o número total de passageiros passou de 135 mil para 141 mil pessoas.

Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a Organização não Governamental Movimento Nacional dos Amigos do Trem comemora a autorização recém-conquistada junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para a implantação do Circuito Nacional Turístico Ferroviário Pai da Aviação. O circuito será composto pelos trechos Juiz de Fora-Santos Dumont-Barbacena; Viçosa-Cajuri e a linha Mangaratiba, no Estado do Rio de Janeiro; além do trecho de dois quilômetros em Bicas e a construção do Museu Ferroviário na mesma cidade.

Segundo o presidente da ONG, Paulo Henrique do Nascimento, a linha que parte de Barbacena já foi totalmente recuperada e a compra dos equipamentos restantes para a primeira viagem está orçada em R$ 50 mil. “A ideia do circuito é que os turistas utilizem os trens não apenas pelo passeio em si, mas também como opção de deslocamento entre as cidades. O circuito pode reter o turista na região por até cinco dias, incrementando o comércio, gerando emprego e renda nos municípios”, afirma Nascimento.

A inauguração completa do circuito está prevista para 2014 e a capacidade inicial de transporte é calculada entre 22 mil e 26 mil passageiros por ano. Os estudos de viabilidade dos trechos já estão prontos e a maior parte será feita revitalizando antigas ferrovias desativadas. “A reativação das ferrovias no Brasil, seja para turismo ou transporte de massa, é uma questão econômica. Além do turismo, a implantação e o funcionamento regular dos trens movimenta toda uma cadeia produtiva que vai da fabricação das máquinas e vagões, dos trilhos, manutenção das linhas e equipamentos até a formação e emprego de mão de obra qualificada”, enumera.

Projetos – De acordo com Afonso Carneiro Filho, ainda que não no ritmo desejado, os empreendedores mineiros, sejam públicos ou privados, começam a atentar para os trens turísticos como uma opção de negócio. Ele cita como exemplos os trens já em implantação de Rio Acima, na RMBH, e de Lavras, no Sul de Minas. Também os estudos desenvolvidos pela Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte sobre a viabilidade de trens ligando a Capital às cidades de Conselheiro Lafaiete e Sete Lagoas, na região Central; Brumadinho e o Aeroporto de Confins, na RMBH.

O Ministério dos Transportes também já sinalizou interesse em trechos como Belo Horizonte-Conselheiro Lafaiete-Ouro Preto, Bocaiúva-Montes Claros, na região Norte; e Belo Horizonte-Divinópolis – que pode atender Contagem, Betim e Itaúna. Já o governo do Estado prevê o resgate dos trens regionais Uberlândia-Uberaba-Araguari e Uberaba-Araxá. “Cada trecho tem uma característica própria. São circuitos históricos, de ecoturismo, urbanos, todos com grande potencial, mas que exigem investimento. Não adianta colocar um ‘trenzinho’ pra funcionar. O passageiro merece e exige que o serviço seja prestado com qualidade e tarifas competitivas”, ensina Carneiro Filho.